Skip to main content

Conflitos e poder: a expansão da China na mineração global e seus impactos

Conflitos e poder: a expansão da China na mineração global e seus impactos

China na mineração global: conflitos, estratégias e impactos da expansão econômica

No início deste ano, o silêncio da madrugada no norte da Argentina foi quebrado por protestos em frente ao dormitório de Ai Qing*. Trabalhadora de uma empresa chinesa que extrai lítio nos Andes, Ai testemunhou pneus em chamas e um motivo causado pela demissão de funcionários locais. “Eu via o céu iluminado pelo fogo. Era assustador”, relembra.

O episódio é apenas um entre os conflitos crescentes envolvendo empresas chinesas e comunidades locais. O avanço da China na mineração de lítio, essencial para baterias e tecnologias verdes, foi gerado em regiões como Argentina, Congo e Indonésia.

A liderança chinesa na economia verde

Nos últimos 10 anos, as chinesas ampliaram a presença de suas empresas no chamado “triângulo do lítio” — Argentina, Bolívia e Chile — que concentram as maiores reservas globais do mineral. Hoje, cerca de 33% do lítio em projetos operacionais ou em construção estão sob controle chinês.

Além disso, o país domina o refinamento de lítio e cobalto, essenciais para baterias de veículos elétricos. Em 2022, a China processou 72% do lítio e 68% do cobalto mundial, garantindo sua liderança na produção global de tecnologias verdes. Essa eficiência industrial contribuiu para a fabricação de mais da metade dos veículos elétricos vendidos em 2023.

Conflitos e denúncias em projetos globais

Apesar do avanço econômico, o impacto das operações chinesas nas comunidades locais é alvo de denúncias. Em Lubumbashi, no Congo, moradores sofrem com explosões frequentes de uma mina de cobalto administrada por uma empresa chinesa. Christophe Kabwita, líder comunitário, relata que as sirenes obrigam os moradores a abandonar suas casas em busca de abrigo. “Até os doentes e recém-nascidos precisam sair”, afirma.

Casos semelhantes ocorrem na Ilha de Obi, Indonésia, onde a mineração desmatou florestas e contaminou rios. Moradores como Nur Hayati enfrentam pressão para deixar suas terras. “A água do rio é imprópria para consumo, e o mar fica vermelho quando chove”, denuncia.

Uma nova era de conflitos

Em 2023, ONGs registraram mais de 40 denúncias contra empresas chinesas, relacionadas a direitos humanos e ambientais. Embora algumas empresas afirmem seguir padrões éticos, as comunidades locais questionam a transparência das transações.

No entanto, a expansão chinesa continua. Para trabalhadores como Wang Gang*, que vivem em alojamentos no Congo, a mineração oferece benefícios superiores à China, mesmo sob jornadas intensas. Já Ai Qing, na Argentina, enfrenta desafios culturais e políticos no trabalho, mas encontra paz nas montanhas. “Subir até as barreiras de sal é tranquilizante. Lá, não há política corporativa”, comenta.

O futuro da mineração global

Com a demanda por críticos minerais prevista para crescer seis vezes até 2040, a mineração global deve se intensificar. Enquanto países como os EUA e a União Europeia tentam reduzir a dependência chinesa, as operações do gigante asiático têm importância estratégica, tanto geopoliticamente quanto economicamente.

Para as comunidades afetadas, o desafio é equilibrar os benefícios econômicos e os custos sociais, enquanto a transição para uma economia verde redefine fronteiras e prioridades.