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UE recorre à China para impedir diminuição de apoio dos EUA a Ucrânia

UE recorre à China para impedir diminuição de apoio dos EUA a Ucrânia

Atenção ao futuro: a reconfiguração das relações transatlânticas sob Trump e a guerra na Ucrânia

Depois de garantir a sua vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, Donald Trump rapidamente deixou claro que, uma vez de volta à Casa Branca, a sua prioridade seria reduzir a ajuda dos EUA à Ucrânia.

Segundo o ex-presidente, ele teria a intenção de colocar fim à guerra provocada pela Rússia logo após sua posse. Essa ameaça levanta questões sobre o futuro apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, especialmente no contexto de um envolvimento crescente da China e de outros atores internacionais, como o Irã e a Coreia do Norte, no conflito.

No cenário europeu, a Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu, ciente da nova ameaça à estabilidade da Ucrânia, está buscando uma maneira de manter o apoio dos EUA ao país. De acordo com Kaja Kallas, comissária indigitada para os Negócios Estrangeiros e Segurança, se os Estados Unidos estão preocupados com a ascensão da China e com outros desafios globais, é fundamental que eles também se preocupem com o impacto da guerra na Ucrânia.

Kallas argumentou que a assistência de Pequim à Rússia, bem como a de outros países como o Irã e a Coreia do Norte, precisa ser observada com mais rigor, apontando que essas nações devem pagar um “preço mais alto” para apoiar a máquina de guerra russa .

Esses comentários não foram um caso isolado. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, reforçou a necessidade de uma colaboração transatlântica mais estreita, especialmente em tempos de incerteza política nos EUA. Após uma reunião de líderes da União Europeia em Budapeste, von der Leyen declarou que a segurança da Europa e do Indo-Pacífico estão interligadas. A Rússia, segundo ela, não representa apenas uma ameaça para a Europa, mas para a segurança global. Essa abordagem indica uma estratégia mais coordenada entre os aliados ocidentais, especialmente em relação às ações de Moscou, que, além do apoio de Pequim, utiliza tecnologias do Irã e da Coreia do Norte em seus ataques na Ucrânia.

As dúvidas sobre a assistência dos EUA

A ameaça de Trump de cortar a ajuda financeira à Ucrânia gerou novas preocupações, especialmente com relação a um empréstimo de 50 bilhões de dólares dos aliados do G7, dos quais os Estados Unidos são responsáveis ​​por 20 bilhões. Destes, metade seria destinada à assistência militar, uma parte que precisa da aprovação do Congresso. Se essa aprovação não ocorrer antes de sua posse, Trump conseguiu interromper o fluxo de dinheiro, o que certamente teria um impacto devastador nas capacidades de defesa da Ucrânia.

Essa possibilidade gerou discussão dentro da comunidade internacional sobre como a guerra na Ucrânia poderia se tornar um fator de atrito entre os aliados. O discurso de Trump também sugere que ele poderia encontrar uma solução rápida para o conflito, talvez tentando impor concessões territoriais dolorosas à Ucrânia, o que geraria grande preocupação tanto em Kiev quanto em suas potências aliadas. Uma abordagem “transacional” de Trump, focada em ganhos tangíveis e rápidos, poderia minar os esforços de longo prazo para a estabilidade na região.

A recalibração da política externa dos EUA e as implicações para a Europa

A presidência de Joe Biden teve como objetivo ajustar a política externa dos EUA, com um foco renovador na Ásia, particularmente em relação à China. O governo Biden não apenas lançou a Estratégia Indo-Pacífica, mas também formou parcerias multilaterais com países da região, incluindo acordos militares, para enfrentar o crescimento da influência chinesa. Além disso, a aliança da OTAN, sob pressão dos Estados Unidos, também começou a prestar mais atenção à segurança do Indo-Pacífico, reconhecendo que as dinâmicas dessa região podem afetar diretamente a segurança da Europa.

A Europa, portanto, encontra-se numa posição delicada, tentando equilibrar a continuidade do apoio à Ucrânia, garantindo a estabilidade interna, e lidando com a crescente assertividade da China. No entanto, a chegada de Trump ao poder poderá significar uma alteração na forma como a interação dos EUA com os seus aliados europeus. O foco de Washington em Pequim e os interesses de segurança europeia podem resultar em uma “abordagem transacional” nas relações transatlânticas. Isso significa que questões comerciais e de segurança podem ser tratadas de forma mais pragmática, com os EUA submetidos à União Europeia para alinhar mais estreitamente suas políticas em relação à China.

O futuro das relações Europeias com os EUA sob Trump

Para Ian Lesser, do German Marshall Fund, uma nova abordagem transatlântica poderá ser mais explícita e direta, com questões de segurança e comércio sendo abordadas de maneira mais assertiva. Menor acredita que os EUA podem exigir um compromisso mais claro da UE com a sua política de segurança, assim como com a política económica, para garantir um alinhamento estratégico mais estreito.

Kaja Kallas, que deverá assumir a carga do Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros em dezembro, desempenhará um papel fundamental nesse processo. Ela terá que lidar com as tensões internas na UE e ao mesmo tempo construir uma estratégia mais sólida para garantir que os interesses europeus sejam respeitados em um ambiente de crescente instabilidade geopolítica. Em suas palavras, é essencial que os EUA entendam que a segurança europeia está indissociavelmente ligada à segurança global, e é nesse contexto que a Ucrânia precisa continuar sendo uma prioridade.

Em resumo, com a possível reeleição de Trump, o futuro das relações transatlânticas está em risco de uma reconfiguração. A ameaça de corte de apoio à Ucrânia coloca em execução a unidade dos aliados ocidentais, enquanto a crescente influência da China e os interesses de segurança da Europa exigem uma abordagem mais cuidadosa e coordenada. O desenvolvimento desta nova fase dependerá da capacidade de líderes como Kallas e von der Leyen de manterem a coesão interna da União Europeia e de convencerem os EUA a seguirem uma política de apoio à Ucrânia, mesmo face às mudanças no comando da Casa Branca.