Ucrânia interrompe trânsito de gás russo: impactos econômicos e geopolíticos para a Europa
Ucrânia interrompe trânsito de gás russo: impactos econômicos e geopolíticos para a Europa
A Ucrânia interromperá o trânsito de gás russo a partir de 2025, afetando o fornecimento para a Europa. Entenda os impactos econômicos e geopolíticos dessa decisão
Em um anúncio feito pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, a Ucrânia declarou que não permitirá mais o trânsito de gás russo através de seu território a partir do final deste ano.
A medida foi revelada após uma reunião entre Zelenskyy e os líderes da União Europeia (UE) em Bruxelas, na última quinta-feira. Para entender as implicações dessa decisão, é necessário olhar para o contexto econômico e geopolítico, além das possíveis reações internacionais, que prometem ser intensas.
O contexto do trânsito de gás russo
Desde o início da guerra na Ucrânia, o fornecimento de gás russo na Europa foi gradualmente limitado, mas ainda há uma parte significativa que circula sem grandes problemas.
A Ucrânia, por sua vez, tem sido um dos principais corredores para o gás proveniente da Rússia, recebendo receitas para permitir o trânsito de milhões de metros cúbicos de gás para a União Europeia.
Um acordo fundamental entre a Ucrânia e a Gazprom, empresa estatal russa, tem esse fluxo garantido até agora, mas ele está prestes a expirar no final deste ano.
Zelenskyy fez questão de esclarecer que essa mudança tem um motivo claro: evitar que o gás russo chegue à Europa disfarçado como produto do Azerbaijão. Para ele, não faz sentido permitir que países da União Europeia continuem comprando gás russo sob o pretexto de que ele vem de outra fonte.
Essa prática, segundo o presidente, apenas perpetuaria a dependência da Rússia, dando continuidade ao financiamento da guerra em curso na Ucrânia.
“Não vamos alargar o trânsito do gás russo”, afirmou Zelenskyy aos jornalistas. “Não vamos permitir que eles ganhem mais bilhões à custa do nosso sangue”, destacou.
O presidente ucraniano, ainda que de forma indireta, fez referência ao Azerbaijão, que tem se mostrado uma alternativa econômica para a Europa, embora com uma abordagem controversa devido ao histórico do país em relação aos direitos humanos.
Implicações para a Eslováquia e a União Europeia
A Eslováquia, um país sem litoral e altamente dependente do gás russo, vê suas negociações com a Ucrânia e a Gazprom se intensificarem. O pais importa anualmente três bilhões de metros cúbicos de gás russo, o que representa uma parte significativa de sua demanda interna.
Com o fim do acordo entre a Ucrânia e a Gazprom, Bratislava tem procurado alternativas, como o fornecimento de gás azerbaijano, embora a ideia de uma possível disfarce de gás russo tenha gerado controvérsias.
Em termos simples, o que se sugeria, segundo um estudo de Bruegel, era que o Azerbaijão comprasse gás russo e o vendesse à União Europeia como gás azeri.
Isso manteria, na prática, os fluxos de gás inalterados, mas daria à Rússia uma oportunidade de continuar ganhando dinheiro com a energia que alimenta sua guerra. Zelenskyy foi enfático em refutar essa prática, alertando que tal acordo seria uma forma de contornar as avaliações e financiar a invasão da Ucrânia.
A reação da Eslováquia e a questão econômica
Com o fim iminente do trânsito de gás, a Eslováquia já começa a se preparar para os impactos econômicos dessa decisão.
O principal comprador de gás do país, a SPP, avisou que a perda do fornecimento direto de gás russo significaria um aumento de 150 milhões de euros nas tarifas de energia, o que representaria um impacto financeiro significativo.
Embora Zelenskyy tenha reconhecido que a Ucrânia também perderia uma fonte de receita, ele minimizou esse fator, afirmando que a situação atual de guerra não torna possíveis discutir questões econômicas de forma simplista.
O anúncio de Zelenskyy deve acirrar ainda mais o esforço entre Kiev e Bratislava. Robert Fico, o primeiro-ministro da Eslováquia, adotou uma postura mais cética em relação ao apoio militar à Ucrânia, alinhando-se com líderes como o húngaro Viktor Orbán.
Fico tem defendido que a Ucrânia não será aceita na OTAN e que seu território será profundamente alterado pela guerra, questões que estão distantes de Bratislava de uma postura mais favorável ao governo ucraniano.
Alternativas ao gás russo: o papel do Azerbaijão
Em meio à crescente pressão por alternativas ao gás russo, o Azerbaijão tem sido apontado como uma solução viável, mas não sem controvérsias. O país do Cáucaso, que já exporta gás para a Europa, tem se colocado como uma opção para substituir o gás russo, especialmente após o início da guerra na Ucrânia.
Contudo, o histórico do Azerbaijão em direitos humanos levanta questionamentos sobre a ética dessa troca.
Zelenskyy e outros críticos argumentam que, ao aceitar gás azeri proveniente de uma rede que também utiliza gás russo, a União Europeia permitiria que o regime de Vladimir Putin mantivesse sua principal fonte de receitas para financiar uma guerra.
O presidente ucraniano propôs uma solução provisória: permitir o trânsito de gás russo desde que o comprador europeu se comprometa a não pagar à Rússia até o fim do conflito.
No entanto, esta proposta enfrentaria grandes obstáculos, como a quebra de contratos com a Gazprom, que provavelmente resultaria na suspensão do fornecimento.
Impactos regionais: a Áustria e a Hungria
Além da Eslováquia, a interrupção do trânsito de gás russo pode afetar diretamente outros países da região, como a Áustria e a Hungria.
Recentemente, a empresa austríaca OMV rescindiu o seu contrato com a Gazprom após a Rússia cortar o fornecimento de gás, um gesto que foi interpretado como uma forma de chantagem.
O governo austríaco, liderado pelo chanceler Karl Nehammer, denunciou essa postura como uma tentativa de invasão dos países europeus a cede-lo politicamente.
No caso da Hungria, o governo de Viktor Orbán tem sido um dos mais desenvolvidos ao estreitamento de laços com Moscou, o que coloca o país em uma posição delicada diante do fraquecimento das relações com a Ucrânia e o impacto da guerra no fornecimento de energia.
Conclusão
A decisão da Ucrânia de interromper o trânsito de gás russo pode mudar o cenário energético da Europa de maneira significativa.
A medida traz desafios econômicos, especialmente para países como a Eslováquia, mas também reafirma a postura ucraniana de não permitir que a Rússia continue lucrando com a guerra.
Em um contexto de crescente polarização geopolítica, a pressão por alternativas ao gás russo, como o gás azerbaijano, revela o dilema entre a busca pela segurança energética e o compromisso com princípios éticos, um equilíbrio que a Europa terá de encontrar nos próximos meses.
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