Por que a China está pagando mais caro pela soja dos EUA mesmo com a oferta barata do Brasil?
Por que a China está pagando mais caro pela soja dos EUA mesmo com a oferta barata do Brasil?
Descubra por que a China decidiu pagar mais caro pela soja americana, ignorando os preços mais baixos do Brasil, e como isso impacta o mercado global de commodities
Em uma transação estratégica, a estatal chinesa Sinograin adquiriu quase 500 mil toneladas métricas de soja dos Estados Unidos nesta semana, com embarques previstos para março e abril. Mesmo com o grão brasileiro sendo mais barato, a decisão reflete a prioridade da China em garantir reservas estatais de maior qualidade, segundo traders americanos familiarizados com o negócio.
Contexto do mercado global de soja
A China, maior importadora mundial de soja, é um mercado essencial tanto para agricultores dos EUA quanto do Brasil. As duas potências agrícolas competem para suprir a demanda chinesa, que incluem a soja em ração animal e óleo vegetal. No entanto, o cenário atual está marcado por tensões comerciais e incertezas políticas, especialmente com a iminente posse de Donald Trump, em 20 de janeiro.
As tarifas comerciais propostas pela nova administração dos EUA preocupam exportadores americanos, temerosos de que a China retalie com novos impostos, tornando a soja americana menos competitiva no mercado global.
Preços em queda e colheitas recordes
Os preços da soja atingiram nesta semana os níveis menores em quatro anos, pressionados pelos estoques elevados nos EUA e pela expectativa de uma colheita recorde no Brasil. Mesmo assim, a Sinograin optou por pagar mais pelos grãos americanos, cerca de 90 centavos de dólar por bushel acima dos contratos futuros de março na Chicago Board of Trade. Para maio, o prêmio foi de 80 centavos. Em comparação, os grãos brasileiros para o mesmo período custaram 80 centavos a US$ 1 a menos por bushel.
Razões estratégicas para a escolha americana
De acordo com os traders, a soja americana é menos propensa a se deteriorar durante o armazenamento, tornando-a preferida pela Sinograin para reabastecer as reservas estratégicas chinesas. “A qualidade pesa mais do que o custo em decisões de reserva”, afirmou um executivo veterano da indústria de soja na China. Já a soja brasileira, embora mais barata, é considerada mais vulnerável à manipulação.
Os volumes adquiridos nesta semana seguem a compra de 750.000 toneladas realizadas na semana anterior, também para embarques entre janeiro e março. Esses números, embora significativamente, são modestos em comparação com os padrões históricos da Sinograin, que frequentemente adquire milhões de toneladas em uma única transação.
Impacto das negociações comerciais
As importações agrícolas da China estão desaceleradas devido às margens de processamento reduzidas e às ameaças tarifárias. Exportadores americanos estão correndo para enviar soja antes que os suprimentos brasileiros dominem o mercado no início de 2024 e antes da posse de Trump. A possibilidade de tarifas elevadas poderia tornar a soja americana proibitivamente cara, especialmente para empresas privadas chinesas, que exigiam isenções tributárias.
Analistas sugerem que as recentes compras da Sinograin podem ter um objetivo político, funcionando como um gesto de boa vontade para a administração Trump. No entanto, os volumes são considerados pequenos demais para desempenhar um papel diplomático significativo. “Se fosse para apaziguar, seriam milhões de toneladas, não centenas de milhares”, comentou Dan Basse, presidente da AgResource Co., de Chicago.
Reservas estratégicas e logísticas
Os níveis exatos das reservas estatais de soja da China são mantidos em sigilo, mas regularmente parte do estoque é leiloada para trituradores locais e, posteriormente, reabastecida com novas compras. A Sinograin, como principal gestora dessas reservas, prioriza a qualidade em detrimento do custo, ao contrário de empresas privadas que focam no preço.
O prêmio pago pela soja americana sugere que as compras estão alinhadas à estratégia de manter estoques robustos. Porém, os analistas alertam que esse movimento pode ser temporário. “Com a América do Sul oferecendo preços significativamente mais baixos, é difícil sustentar essa escolha por muito tempo”, avaliou Basse.
Colheita brasileira no horizonte
Enquanto isso, o Brasil se prepara para uma colheita recorde, consolidando sua posição como maior fornecedor de soja para a China. O aumento da oferta sul-americana pode influenciar os fluxos comerciais globais e pressionar ainda mais os preços nos próximos meses. Para os EUA, isso significa que o tempo é essencial para maximizar as exportações antes da chegada da safra brasileira.
A disputa pela preferência chinesa no mercado de soja continua sendo um capítulo crucial na relação econômica entre EUA, China e Brasil, com implicações que vão além do setor agrícola.
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