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Trump declara guerra geopolítica pelo controle do Canal do Panamá com o objetivo de frear influência da China

Trump declara guerra geopolítica pelo controle do Canal do Panamá com o objetivo de frear influência da China

Trump reacende debate sobre o controle do Canal do Panamá, destacando presença chinesa e impactos estratégicos para os EUA

O presidente eleito Donald Trump, em mais uma de suas declarações controversas, reacendeu a discussão sobre a soberania e o controle do Canal do Panamá.

A ameaça de “recuperar” o canal, feita recentemente, traz à tona uma postura mais agressiva de sua política externa, deixando claro que “décadas de comércio dos EUA financiando o crescimento e a presença estratégica da China nas Américas acabaram”, segundo Mauricio Claver- Carone, indicado como enviado especial para a América Latina.

O “vácuo de controle” no hemisfério

Claver-Carone criticou a postura de administrações anteriores, que mantiveram um “vácuo de controle e influência” no Hemisfério Ocidental.

No entanto, a crítica inclui, ironicamente, o próprio primeiro mandato de Trump. Durante esse período, a política americana para a região focou principalmente em questões migratórias e avaliações contra a Venezuela.

Foi nessa época, em 2017, que o Panamá cortou relações diplomáticas com Taiwan e distribuiu laços com a China, abrindo portas para investimentos e projetos chineses.

Esse movimento estratégico da China na América Latina incluiu vitórias significativas em licitações para obras de infraestrutura, como a expansão do canal e de usinas de energia. Trump, em resposta, promete perdurar sua política “América Primeiro” no hemisfério.

Canal do Panamá: uma peça estratégica

O Canal do Panamá é vital para o comércio global e, principalmente, para os EUA. Mais da metade do tráfego de navios no canal tem como destino ou origem portos americanos.

A hidrovia, construída pelos EUA no início do século XX, evita a longa e perigosa rota ao redor do Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul. Não é surpresa que Trump o chame de “bem nacional” dos EUA.

Em agosto de 2023, durante uma entrevista, Trump declarou que a China “controla” o canal, o que foi amplamente refutado tanto pelas autoridades chinesas quanto ao Panamá.

Trump afirmou que, caso eleito, expulsaria qualquer presença chinesa no local, citando seu suposto bom relacionamento com o presidente chinês, Xi Jinping.

A Doutrina Monroe e a nova abordagem de Trump

Historicamente, os Estados Unidos usaram a Doutrina Monroe como justificativa para evitar a interferência de potências estrangeiras nas Américas. Embora rejeitado por governos posteriores, Trump declarou em 2018 que a doutrina permanece como “política formal” dos EUA.

Isso reflete sua visão de proteção da atmosfera de influências externas, principalmente da China, que investe profundamente em infraestrutura na região.

Para Trump, a crescente presença chinesa em projetos estratégicos, como o Canal do Panamá, representa uma ameaça à segurança americana.

Desde 2017, as empresas chinesas venceram licitações para diversas obras no canal, incluindo melhorias nas eclusas. Em 2018, o presidente chinês, Xi Jinping, visitou o Panamá, solidificando a relação entre os países.

Reações internacionais

As declarações de Trump geraram reações imediatas. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, em discurso televisivo, reafirmou a soberania do país sobre o canal.

Segurando uma cópia dos tratados de 1977, Mulino declarou: “Cada metro quadrado do Canal do Panamá pertence ao Panamá e permanecerá assim”.

A China também rejeitou as acusações. Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, declarou que a China respeita a soberania do Panamá e o status do canal como hidrovia internacional neutra.

Já Wang Youming, especialista chinês, descreveu a postura de Trump como uma tentativa de renegociar taxas portuárias mais vantajosas para os EUA.

Custos e desafios operacionais

Os custos de passagem pelo canal são determinados por uma comissão independente do Panamá. Recentemente, as taxas foram ajustadas devido a problemas climáticos, como secas, que reduziram a capacidade operacional da hidrovia.

Além disso, novas regras de reserva aumentaram os custos para navios atrasados.

Trump criticou esses aumentos, chamando-os de “ridículos”. Ele argumenta que, considerando a ajuda histórica dos EUA ao Panamá, os americanos deveriam ter condições mais adequadas.

Uma hidrovia com legado histórico

O Canal do Panamá tem uma história complexa. Após sua independência da Colômbia em 1903, com o apoio dos EUA, o Panamá cedeu aos americanos direitos perpétuos sobre o canal e áreas adjacentes.

A construção, projetada por engenheiros americanos, contornada com a mão de obra de trabalhadores do Caribe. Embora Trump tenha exagerado o número de mortes durante a construção, os registros oficiais apontam cerca de 5.600 vítimas.

No final da década de 1970, o presidente Jimmy Carter e Omar Torrijos, líder panamenho, negociaram a devolução do canal ao Panamá. Os tratados previam que a hidrovia permanecesse neutra e aberta a todos os países, sem discriminação.

Segurança ou barganha?

Embora não existam evidências concretas de planos militares chineses na região, os Estados Unidos alertam para o “uso duplo” de infraestrutura crítica construída pela China.

Portos, instalações espaciais e cibernéticas chinesas são vistos como potenciais ameaças. Contudo, para analistas como Wang Youming, as declarações de Trump são mais uma tática de barganha do que uma ameaça real.

Resta saber se a postura de Trump gerará mudanças concretas ou será mais um movimento retórico. Certo é que o Canal do Panamá continua a ser um ponto estratégico e disputado no tabuleiro geopolítico das Américas.