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Empresas farmacêuticas chinesas expandem-se para África ao abrigo da “Rota da Seda da Saúde”

Empresas farmacêuticas chinesas expandem-se para África ao abrigo da “Rota da Seda da Saúde”

A gigante farmacêutica chinesa Shanghai Fosun Pharmaceutical está prestes a concluir a primeira fase de sua planta de manufatura próxima a Abidjan, a maior cidade da Costa do Marfim. Essa fábrica, voltada para a produção de medicamentos antimaláricos e antibióticos, representa um avanço significativo para o setor de saúde africano. O projeto, que conta com um financiamento de €50 milhões (aproximadamente US$54,7 milhões) da International Finance Corporation, visa produzir 5 bilhões de comprimidos anualmente quando suas três fases forem finalizadas.

O impacto na Costa do Marfim

Além de atender à enorme demanda por medicamentos na região, a planta da Fosun trará cerca de 1.000 oportunidades de emprego para a área de Grand-Bassam, a leste de Abidjan. Essa movimentação faz parte de uma estratégia mais ampla de empresas chinesas, que estão investindo em plantas de manufatura fora da China, especialmente no continente africano, como parte da chamada “rota da seda da saúde”. Esse conceito está vinculado à Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), promovida pelo governo chinês, que busca expandir suas parcerias em infraestrutura e comércio com diversos países, incluindo aqueles da África.

Durante a cúpula do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), realizada recentemente, o presidente Xi Jinping se comprometeu a apoiar a produção de medicamentos e a indústria de equipamentos médicos no continente africano, promovendo a co-investimento entre empresas chinesas e africanas.

A luta contra a malária na África

O projeto da Fosun é especialmente importante em um contexto onde a malária ainda é um dos maiores desafios de saúde pública da África Subsaariana. Segundo a Organização Mundial da Saúde, essa região responde por mais de 95% dos casos e mortes globais por malária. A Fosun é uma grande produtora de medicamentos à base de artemisinina, uma substância descoberta em 1972 pela cientista chinesa Tu Youyou, que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina em 2015 por seu trabalho com tratamentos eficazes contra a malária.

Para o professor Ernest Tambo, especialista em saúde global da Universidade de Global Health Equity, em Ruanda, a produção desses medicamentos na África pode salvar inúmeras vidas, especialmente entre os grupos mais vulneráveis, como crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas. Ele também destaca que essa produção local ajudará a combater a crescente resistência aos medicamentos antimaláricos.

Além do investimento na Costa do Marfim, outras iniciativas importantes estão sendo desenvolvidas na África. Recentemente, a Zâmbia assinou um acordo com a China para construir a primeira fábrica de vacinas contra a cólera no continente, com um investimento de aproximadamente US$37 milhões. A planta deverá produzir mais de 3 milhões de doses de vacinas na primeira fase, não só para a Zâmbia, mas também para toda a região africana.

No mesmo sentido, a Nigéria está recebendo um investimento de US$100 milhões para a construção de uma fábrica farmacêutica no estado de Lagos. Essa iniciativa, em parceria com empresas chinesas, visa aumentar a autossuficiência do país na produção de medicamentos antirretrovirais, fundamentais para o tratamento de HIV, uma condição que afeta cerca de 2 milhões de pessoas na Nigéria.

O aumento do interesse chinês no setor farmacêutico africano reflete não apenas a crescente demanda por medicamentos no continente, mas também uma estratégia econômica. Segundo Zhou Taidong, vice-presidente do China Centre for International Knowledge on Development, essa expansão está alinhada à necessidade de maior autonomia dos países africanos em termos de produção de medicamentos, especialmente após a pandemia de Covid-19.

Para os especialistas, como o professor Lauren Johnston, da Universidade de Sydney, essa parceria entre a China e a África é uma oportunidade tanto para melhorar os resultados de saúde no continente quanto para expandir o mercado da indústria de saúde chinesa. O desenvolvimento de cadeias de suprimento farmacêutico locais é visto como um passo crucial para reduzir a dependência de importações de medicamentos e tornar os tratamentos mais acessíveis.

A expansão da indústria farmacêutica chinesa na África, exemplificada pela planta da Fosun na Costa do Marfim, representa um marco importante na cooperação entre China e África. A produção local de medicamentos pode não apenas salvar vidas, mas também ajudar o continente a construir uma infraestrutura de saúde mais robusta e autossuficiente. À medida que mais investimentos são direcionados para o setor de saúde africano, espera-se que essa parceria fortaleça tanto as economias locais quanto o sistema de saúde global.