Mistério da Covid-19: O que sabemos (e ainda não sabemos) sobre a origem do vírus
Mistério da Covid-19: O que sabemos (e ainda não sabemos) sobre a origem do vírus
Cinco anos após o início da pandemia de Covid-19, a origem do Sars-CoV-2 ainda é incerta, com hipóteses zoonóticas e laboratoriais em debate
Cinco anos depois dos primeiros casos de Covid-19, relatados pelas autoridades sanitárias de Wuhan, na China, em 30 de dezembro de 2019, ainda persistem dúvidas sobre a origem do Sars-CoV-2.
A comunidade científica segue em busca de respostas, enquanto controvérsias marcam o debate internacional.
Pistas científicas e lacunas
Desde o início da pandemia, esforços significativos foram direcionados para identificar o hospedeiro original do coronavírus.
Os cientistas avançaram nos estudos sobre possíveis transmissores, mas o elo definitivo com a natureza permanece desconhecido. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o governo chinês, iniciou uma força-tarefa para investigar a origem do vírus.
O relatório preliminar de 2021 apontou ser “muito provável” que o vírus tenha se disseminado a partir de um animal infectado no mercado de Huanan, em Wuhan.
Análises de amostras coletadas no local indicaram a presença de coronavírus relacionado ao Sars-CoV-2 em animais como cães-guaxininas. Apesar disso, o direto com um anfitrião não foi totalmente previsto.
Em 2022, a OMS sugeriu que os morcegos poderiam ser o reservatório original do vírus. Contudo, especialistas ressaltam que pesquisas sobre doenças zoonóticas podem levar anos ou, em alguns casos, nunca serem totalmente esclarecidas.
“Demoramos décadas para entender a origem de outros vírus, como o Ebola, e ainda não sabemos qual morcego africano é seu hospedeiro primário”, explica Flávio Fonseca, virologista da UFMG.
Segundo ele, novos estudos aproximam-se da ciência de uma resposta para o Sars-CoV-2, mas o quebra-cabeça ainda não foi resolvido.
Mercado de Huanan e os desafios da investigação
Pesquisas divulgadas em 2023 reforçam a relação entre o mercado de Huanan e a disseminação inicial do vírus.
Cientistas analisaram amostras genéticas de animais vivos comercializadas no local, detectando semelhanças superiores a 90% entre o Sars-CoV-2 e sequências genéticas encontradas em cães-guaxininas.
Essas descobertas mostram a exposição dos animais ao coronavírus antes do surto ser identificado em humanos.
Por outro lado, pesquisadores destacam que a interferência humana pode ter facilitado a transmissão do vírus. A caça, o transporte e a comercialização de animais em condições precárias criam cenários ideais para o chamado “spillover”, quando um vírus salta de uma espécie para outra.
Mesmo com essas evidências, ainda não está claro quem ou o que levou o vírus ao mercado. Além disso, o governo chinês enfrentou críticas por sugerir esconder dados cruciais nos projetos iniciais da pandemia. A OMS solicitou acesso transparente às informações, mas as respostas foram limitadas.
A hipótese de escapar laboratorial
Enquanto os estudos sobre a origem zoonótica avançam, teorias alternativas ganham força, especialmente nos Estados Unidos.
Em 4 de dezembro de 2024, um relatório do Senado americano, liderado pelos republicanos, sugeriu que o vírus “provavelmente” se originou de um acidente no Instituto de Virologia de Wuhan (WIV).
As alegações baseiam-se em relatos de inteligência que indicam que os pesquisadores do WIV desenvolveram doenças respiratórias semelhantes à Covid-19 no final de 2019.
Esses cientistas estariam envolvidos em experimentos de “ganho de função”, que consistem em manipular geneticamente vírus para estudar sua evolução. Apesar das acusações, não há provas concretas que sustentem essas hipóteses.
O virologista Shi Zhengli, que lidera as pesquisas no WIV, negou que o laboratório tenha trabalhado com amostras relacionadas ao Sars-CoV-2.
O papel humano nas pandemias
Independentemente da origem específica do coronavírus, os especialistas concordam que eventos como a pandemia de Covid-19 estão ligados à ação humana.
O desmatamento, a fragmentação de habitats e as mudanças climáticas aumentam o contato entre humanos e animais silvestres, aumentando o risco de transmissão de patógenos.
“Não precisamos esperar o hospedeiro primário para considerar o impacto de nossas atividades na emergência de novas pandemias”, afirma Fernando Spilki, virologista da Rede Corona Ômica. Ele destaca que a busca por respostas não deve ser usada para desviar o foco da responsabilidade coletiva.
Pesquisas como as lideradas por Peter Daszak, da EcoHealth Alliance, mostram a importância de monitorar doenças emergentes. “Precisamos de investimento contínuo em ciência para evitar futuras pandemias”, avalia Clarissa Damaso, da UFRJ.
Conflito de narrativas e busca por respostas
A falta de consenso sobre a origem da Covid-19 não reflete apenas desafios científicos, mas também disputas geopolíticas. Enquanto a comunidade científica avança em estudos detalhados, governos como o dos EUA e da China travam batalhas narrativas que dificultam colaborações internacionais.
Por agora, as investigações seguem sem uma conclusão definitiva, mantendo o mundo em busca de respostas que talvez nunca sejam completamente alcançadas.
Últimas notícias
-
Tecnologia de cor inovadora baseada em penas de pavão pode revestir seu próximo carro
-
Intel investe US$ 300 milhões para expandir operações na China e reforça presença no mercado
-
China revela roteiro para se tornar líder mundial em ciência espacial até 2050
-
Avanços tecnológicos geram produção recorde de petróleo de xisto na China
-
‘Monstro da infraestrutura’: como a China construiu a ferrovia de alta velocidade mais longa do mundo
-
TikTok demite centenas de funcionários globalmente, com foco em moderação de conteúdo por IA