Como a China está transformando o futuro da energia: a revolução das redes de ultra-alta tensão
Como a China está transformando o futuro da energia: a revolução das redes de ultra-alta tensão
A revolução energética da China: como as redes de ultra-alta tensão estão transformando o Jogo
Na busca por energia limpa e sustentável, a China não só lidera o ranking mundial de produção de energia renovável, mas também está investindo pesado em uma infraestrutura revolucionária: as redes de tensão ultra-alta (UHV). Essas redes, projetadas para transmitir energia de forma eficiente por longas distâncias, estão remodelando a forma como o país distribui eletricidade. Mas será que essa estratégia vale a pena?
Imagine um cenário onde os “trens-bala para energia”, como os chineses gostam de chamá-los, transportam eletricidade quase à velocidade da luz para atender à demanda crescente de megacidades como Xangai. Em um mundo onde as mudanças climáticas e a transição energética são prioridades globais, a experiência da China pode oferecer lições valiosas.
Uma revolução nos céus de Xangai
Perto da megacidade de Xangai, um edifício verde, cercado por cabos e postes, chama atenção na paisagem bucólica. É a Estação Conversora de Fengxian, um centro que recebe energia de uma usina hidrelétrica localizada a quase 2.000 km de distância. Essa energia é gerada no sudoeste do país, no Rio Jinsha, um afluente do Yangtze.
A linha de transmissão Xiangjiaba-Xangai, concluída em 2010, é um marco dessa tecnologia. Com uma capacidade máxima de 6,4 gigawatts, ela atende cerca de 40% da demanda energética de Xangai. Essa foi uma das primeiras de uma série de linhas UHV que hoje conectam fontes remotas de energia – como hidrelétricas, parques solares e eólicos – aos centros urbanos.
Por que ultra-alta tensão?
As linhas de UHV funcionam sob um princípio simples: quanto maior a tensão, menores são as perdas de energia durante a transmissão. Isso é crucial em um país do tamanho da China, onde os recursos energéticos estão concentrados no interior, enquanto a maior parte da população vive na costa.
O engenheiro Guo Liang compara as redes UHV aos trens-bala, destacando sua eficiência e rapidez. “Assim que a energia é gerada, ela precisa ser enviada imediatamente. Não temos como armazená-la por longos períodos”, explica.
Desafios e controvérsias
A introdução dessa tecnologia não foi fácil. Durante anos, debates aquecidos surgiram sobre a confiabilidade e os impactos ambientais das redes UHV. Muitos temiam que esses projetos pudessem ser um desperdício de recursos ou criar dependência de combustíveis fósseis.
Os custos também são um fator significativo. Estima-se que a construção de linhas UHV tenha exigido investimentos de mais de 1,6 trilhão de yuans (cerca de US$ 222 bilhões). Ainda assim, o governo chinês melhora em frente, impulsionado pela visão de criar uma rede robusta e integrada que elimina apagões e garante energia para todos.
A mudança para as renováveis
Inicialmente, as redes UHV foram projetadas para transportar energia gerada por carvão e hidrelétricas. No entanto, com a rápida expansão das bases de energia eólica e solar, essas linhas passaram a desempenhar um papel essencial na transição energética. Em 2022, mais da metade da eletricidade distribuída por essas linhas veio de fontes renováveis.
Entretanto, a dependência do carvão ainda persiste. Como a energia solar e a eólica são intermitentes, as redes precisam de fontes resultantes, como o carvão, para garantir a operação contínua. Isso levanta questões sobre a eficácia das redes UHV na promoção de uma matriz energética totalmente limpa.
Aprendizados para o mundo
A experiência da China com as redes UHV é única, mas outros países também têm explorado essa tecnologia. O Brasil, por exemplo, usa linhas UHV para transportar energia hidrelétrica da Amazônia para os grandes centros urbanos do sudeste. Na Índia, projetos semelhantes integram fontes renováveis às redes locais.
Mas a expansão global dessa tecnologia enfrenta desafios regulatórios e financeiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, a resistência de comunidades locais e as complexas questões burocráticas têm dificultado a adoção de redes de transmissão de alta capacidade.
O Futuro da transmissão de energia
Embora as redes UHV sejam uma solução promissora, elas não são a única resposta. Alternativas como microrredes – sistemas locais que integram geração, armazenamento e consumo de energia – estão ganhando popularidade, especialmente em áreas rurais e países em desenvolvimento.
Para muitos especialistas, o ideal é combinar diferentes abordagens. Redes de transmissão de alta capacidade podem ser a espinha dorsal do sistema energético, enquanto soluções locais oferecem resiliência e flexibilidade. Além disso, a educação e o engajamento da população são fundamentais para promover a acessibilidade de novas tecnologias.
Conclusão: vale a pena?
A China está apostando alto em redes UHV como parte de sua estratégia para liderar a transição energética global. Embora os desafios sejam muitos – desde altos custos até a dependência de combustíveis fósseis – os benefícios potenciais, como maior eficiência e integração de fontes renováveis, são inegáveis.
Se uma estratégia da China valerá a pena, só o tempo dirá. O certo é que sua experiência ofereça um exemplo poderoso para outros países enfrentando desafios semelhantes. Afinal, a busca por um futuro energético sustentável é um esforço global – e cada passo nessa direção importante.
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