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China x Trump: retorno a presidência dos EUA pode atrapalhar planos do gigante asiático de reerguer sua economia

China x Trump: retorno a presidência dos EUA pode atrapalhar planos do gigante asiático de reerguer sua economia

O retorno de Trump, as medidas da China e o futuro da economia global

Nos corredores do poder em Pequim, o clima é de urgência. Com uma economia lutando para recuperar o fôlego e a perspectiva de uma nova presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, a China enfrenta um cenário complexo. Recentemente, o governo chinês anunciou uma série de medidas robustas para combater o declínio econômico, enquanto se prepara para o impacto das políticas protecionistas de Trump. O desafio? Reequilibrar sua economia em um cenário global cada vez mais volátil.

O contexto econômico da China: desafios e estratégias

Desde a pandemia, a economia chinesa não conseguiu retomar o ritmo de crescimento dos anos anteriores. Setores que antes eram pilares da economia, como o imobiliário, enfrentaram uma crise significativa, enquanto o consumo doméstico permanece fraco. Além disso, os governos locais acumularam dívidas insustentáveis, comprometendo a sua capacidade de investir e crescer.

Para enfrentar esses problemas, o governo chinês anunciou um plano ambicioso: investir 6 trilhões de yuans (aproximadamente 840 bilhões de dólares) até 2026 para garantir governos locais e alavancar a economia. Esses recursos serão direcionados, principalmente, para reestruturar dívidas e projetos de infraestrutura. A ideia é evitar que o endividamento atrapalhe os esforços de crescimento.

Esse movimento, no entanto, é apenas parte da pesquisa. O presidente Xi Jinping, em discursos desde 2017, tem defendido a transição de uma economia baseada em crescimento rápido para um modelo de “desenvolvimento de alta qualidade”. Esse modelo prioriza a produção avançada e as indústrias verdes, como energia limpa e veículos elétricos (VEs). Mas será que isso é suficiente para enfrentar os ventos contrários que vêm do Ocidente?

O impacto do retorno de Trump

A vitória de Donald Trump nas eleições americanas traz uma camada extra de complexidade ao cenário. Conhecido por sua postura agressiva em relação à China, Trump prometeu, durante sua campanha, tarifas de até 60% sobre produtos chineses. No primeiro mandato, ele já havia taxas impostas de 25%, causando impacto significativo nas exportações chinesas.

Agora, com a economia em um estado mais vulnerável, a China pode sentir ainda mais os efeitos dessas políticas. Como Bill Bishop, analista especializado em China, mencionou: “Trump vê a China como uma adversária que renegou acordos comerciais. Ele leva a sério suas ameaças tarifárias.”

A pressão de Washington, entretanto, não é novidade para Pequim. Mesmo após a saída de Trump, o governo Biden manteve muitas das medidas tarifárias e, em alguns casos, até ampliadas. O retorno de Trump intensifica a necessidade de a China fortalecer sua economia doméstica e reduzir sua dependência das exportações para os Estados Unidos.

Lições do passado: a estagnação japonesa como advertência

A história oferece um exemplo claro de que pode acontecer se a China não conseguir reequilibrar sua economia: o Japão. Após o estouro da bolha imobiliária e das ações nos anos 1990, o Japão passou décadas de crescimento estagnado. Economistas, como Stephen Roach, ex-presidente do Morgan Stanley Ásia, alertam que a China corre o risco de seguir o mesmo caminho.

A solução, segundo Roach, é explorar a demanda inexplorada do consumidor chinês. Isso significa criar políticas que incentivem o consumo interno, reduzindo a dependência de exportações e investimentos pesados ​​em infraestrutura. Além disso, um foco na indústria sustentável pode ajudar a economia a se tornar mais resiliente a choques externos.

Um exemplo prático que pode ser encontrado no setor de veículos elétricos e baterias de íons de lítio. Nos últimos anos, a China se tornou líder mundial nesses segmentos, com exportações que ultrapassaram a marca de 1 trilhão de yuans em 2023. Esse crescimento tem sido um alívio parcial para os impactos da crise imobiliária.

A resistência ocidental e os desafios futuros

Apesar do sucesso no mercado de alta tecnologia, a China enfrenta resistência crescente nos países ocidentais. A União Europeia, por exemplo, aumentou recentemente as tarifas sobre veículos elétricos chineses para até 45%. Essa barreira comercial se soma às medidas tarifárias dos EUA, dificultando ainda mais as exportações chinesas.

Essas considerações destacam a necessidade de a China diversificar seus parceiros comerciais e buscar novos mercados. Ao mesmo tempo, Pequim precisa continuar investindo em inovação tecnológica e energia limpa. O progresso no setor de painéis solares, por exemplo, é um indicativo de que uma estratégia de alta tecnologia pode funcionar a longo prazo. Hoje, a China domina 80% da produção mundial de painéis solares, um setor vital para a transição energética global.

O que esperar do futuro?

A economia chinesa está em um ponto de inflexão. Por um lado, as políticas de Trump e a resistência ocidental representam desafios significativos. Por outro lado, as medidas de estímulo interno e o foco em alta tecnologia oferecem uma base sólida para um futuro mais sustentável.

Os líderes em Pequim sabem que o caminho para a recuperação não será fácil. Como Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe do banco Natixis, mencionou: “A sobrecapacidade da China aumentou. Eles não têm outra fonte de crescimento a curto prazo.” Essa realidade reforça a necessidade de acelerar reformas estruturais e estimular o consumo doméstico.

O retorno de Trump ao Salão Oval coloca ainda mais pressão sobre a China. As próximas decisões políticas e econômicas serão cruciais não apenas para o futuro da economia chinesa, mas também para as relações entre as duas maiores potências econômicas do mundo. Enquanto isso, o resto do mundo observa atentamente, ciente de que os desdobramentos dessa história terão impactos globais.