Namorar, casar e ter filhos: a nova aposta da China contra o envelhecimento populacional
Namorar, casar e ter filhos: a nova aposta da China contra o envelhecimento populacional
A China está intensificando esforços para enfrentar sua crise demográfica com incentivos financeiros, cursos de amor em universidades e campanhas para aumentar a taxa de natalidade
A China está enfrentando uma crise demográfica grave, e o governo intensificou uma campanha nacional para incentivar a população a namorar, casar e ter filhos.
A preocupação é crescente devido ao envelhecimento acelerado da população, baixa taxa de natalidade e número de mortes superando os nascimentos. Com isso, medidas inusitadas têm sido implementadas, abrangendo desde incentivos financeiros até cursos de amor em universidades.
Envelhecimento e baixa natalidade: o cenário preocupante
O número de mortes na China já supera o de nascimentos, acendendo um alerta vermelho para as autoridades.
Segundo Ren Zeping, economista renomado, o país enfrenta uma combinação preocupante de tendências demográficas: “menos crianças e mais idosos”. Ele ressaltou que o ritmo do envelhecimento chinês é sem precedentes.
O governo central tem pressionado administrações locais para enfrentar essa realidade sombria. Pequim prometeu cortes de impostos e subsídios para aliviar os custos de criação de filhos, mas muitos detalhes ainda estão em discussão.
Além disso, o regime anunciou a intenção de construir uma “sociedade amiga da natalidade”, como parte de um pacote econômico mais amplo.
Incentivos financeiros e chamadas telefônicas
Governos locais têm adotado abordagens diretas e, em alguns casos, invasivas para promover nascimentos. Mulheres casadas na faixa dos 20 e 30 anos relataram receber chamadas de autoridades perguntando sobre seus planos de ter filhos.
Algumas foram incentivadas a realizar exames pré-natais, enquanto outras receberam propostas de subsídios.
Em Zhejiang, uma mulher relatou que as autoridades locais oferecem 10 mil yuans (cerca de 14 mil dólares) por um segundo filho.
“Não há uma política explícita, mas se você pedir, a vila encontra uma maneira de conseguir o subsídio”, disse ela. Esse tipo de incentivo é determinado localmente, sem regulamentação uniforme em todo o país.
Campanha midiática e cursos universitários
A propaganda estatal tem desempenhado um papel central na campanha. O Diário do Povo e outros veículos promovem o parto como algo benéfico para a saúde das mulheres, citando supostos benefícios, como prevenção de doenças.
Paralelamente, as universidades foram incentivadas a oferecer “cursos de educação sobre casamento e amor”. Segundo a Comissão Nacional de Saúde, 57% dos estudantes universitários relataram evitar relacionamentos devido à carga de trabalho.
A proposta inclui ensinar teoria sobre amor e casamento, com análises de casos da vida real, para ajudar os jovens a se relacionarem.
Especialistas questionam eficácia das medidas
Apesar dos esforços, especialistas duvidam da eficácia das medidas. Wang Feng, demógrafo da Universidade da Califórnia, afirmou que o governo está reutilizando métodos de controle populacional da época da política do filho único, mas agora com o objetivo oposto.
“Esse velho vinho em uma nova garrafa não será eficaz”, disse ele, destacando que as razões para a baixa taxa de natalidade hoje são diferentes.
Além disso, a instabilidade econômica, o aumento do desemprego e os altos custos de vida dificultam a formação de famílias. Shen Yang, uma escritora feminista, argumentou que o governo deveria priorizar a criação de um ambiente mais acolhedor para pais, especialmente mães solteiras.
Geração educada resiste às expectativas
Outro obstáculo é a resistência dos jovens, especialmente das mulheres, que pertencem à geração mais educada da história da China.
Muitas enfrentam penalidades de carreira ao sair do mercado de trabalho para ter filhos. Segundo Wang Feng, convencer essa geração será um dos maiores desafios para o governo.
Embora Pequim esteja focada em estimular nascimentos, não há sinais de que o acesso ao controle de natalidade ou ao aborto tenha sido restringido. No entanto, médicos relataram casos isolados de recusas em realizar procedimentos, frequentemente devido a temores de ações legais por parte de familiares.
Um futuro incerto
A China segue buscando maneiras de reverter sua crise demográfica. No entanto, enquanto os jovens priorizarem estabilidade financeira e oportunidades de carreira, a tarefa de mudar esse cenário permanecerá desafiadora.
As medidas propostas, apesar de ambiciosas, podem não ser suficientes para lidar com uma mudança tão profunda nos valores e prioridades da sociedade.
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