A invasão silenciosa: China está usando IA para dominar a América Latina?
A invasão silenciosa: China está usando IA para dominar a América Latina?
China expande influência na América Latina com IA, vigilância e deepfakes, levantando questões sobre privacidade, segurança e controle estratégico na região
A China vem consolidando sua presença na América Latina por meio de tecnologias avançadas, especialmente as relacionadas à inteligência artificial. Essa expansão, no entanto, tem levantado preocupações sobre privacidade, vigilância e manipulação de informações.
O relatório “América Latina na Nova Geopolítica Global”, publicado pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército do Peru (CEEEP), alerta sobre o foco crescente da China em áreas como vigilância e deepfakes, no contexto de uma estratégia antiocidental.
Vigilância e controle: uma ferramenta estratégica
A América Latina, marcada por altos índices de criminalidade, tornou-se um campo fértil para a implementação de tecnologias chinesas de vigilância.
Dados do Gabinete das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC) mostram que oito dos dez países com as maiores taxas de homicídios do mundo estão na região. Aproveitando esse cenário, Pequim tem testado equipamentos de monitoramento com a justificativa de combate ao crime.
Por exemplo, scanners de visitantes em prisões brasileiras são fabricados pela Nuctech, uma empresa ligada à indústria de defesa chinesa.
Apesar de sua disseminação, a Nuctech foi colocada na lista negra dos EUA em 2020, devido a preocupações com espionagem e comprometimento de dados. Em abril de 2024, a União Europeia iniciou investigações contra os escritórios da empresa por subsídios estatais injustos.
Já os sistemas de reconhecimento facial, produzidos pela Huawei, estão em operação em várias cidades brasileiras, como Campinas e em 78 municípios baianos.
Essas câmeras integram informações em sistemas centrais, permitindo identificar suspeitos, mas também gerando enormes bancos de dados.
Sob a Lei de Inteligência Nacional de 2017 da China, essas informações podem ser requisitadas pelo governo chinês, levantando sérias questões sobre privacidade e soberania.
A Iniciativa do cinturão e rota e a “cidade inteligente”
A Iniciativa do Cinturão e Rota da China inclui projetos como a instalação de câmeras de vigilância em várias cidades da América Latina, incluindo a Cidade do México e Colón, no Panamá.
Um exemplo recente foi o anúncio da Lenovo sobre um projeto de cidade inteligente, onde câmeras comuns foram adaptadas para monitoramento remoto e análise de dados em tempo real.
Esses sistemas representam um risco duplo: permitem que regimes autoritários se perpetuem sem poder e ofereçam à China uma ferramenta de influência política. Na Venezuela, o Carnê da Pátria, desenvolvido pela chinesa ZTE, centraliza dados pessoais dos cidadãos, reforçando o controle estatal.
Deepfakes e manipulação de informações
Outro uso controverso da inteligência artificial chinesa são os deepfakes, vídeos falsificados que simulam pessoas reais para manipular narrativas. Desde 2019, as operações como a Spamouflage inundam redes sociais com conteúdos pró-China, criando confusão e minando a confiança nas instituições.
Guermantes Lailari, especialista em defesa, alerta que deepfakes podem distorcer a realidade e provocar instabilidades. Um vídeo falso, por exemplo, poderia simular declarações de líderes políticos, intensificando internacionais.
Comércio digital e fintechs chinesas
O setor de comércio eletrônico é outro braço da estratégia chinesa. Empresas como Shein e Temu, apesar do sucesso, enfrentam acusações de práticas abusivas, incluindo trabalho escravo e marketing agressivo. As investigações na Europa já foram abertas para averiguar possíveis irregularidades.
As fintechs chinesas, como a Fosun, também têm avançadas na América Latina. Além de oferecerem sistemas de pagamento digital, essas empresas ampliam o acesso da China a dados financeiros sensíveis.
Essa penetração pode facilitar a evasão de sanções ocidentais, caso Pequim seja alvo de medidas punitivas.
Tecnologia 5G e redes de telecomunicações
No campo das telecomunicações, a Huawei continua a se expandir com projetos como a instalação de redes 5G e 5.5G no Brasil e na Argentina. Em parceria com operadoras locais, a empresa chinesa também tem tecnologias testadas avançadas na região amazônica. Entretanto, especialistas alertam que esses sistemas podem ser usados para espionagem, comprometendo negociações comerciais e a segurança nacional.
Satélites e espaço: a próxima fronteira
Além da tecnologia terrestre, a China também busca dominar o setor espacial na América Latina. Parcerias com países como o Brasil para a produção de satélites e a introdução de empresas como GalaxySpace indicam a ambição de Pequim em competir com gigantes ocidentais, como a Starlink.
O avanço tecnológico chinês, embora impressionante, traz consigo desafios complexos para a região. Entre oportunidades econômicas e riscos de soberania, a América Latina caminha em um equilíbrio delicado, com impactos que poderão reverberar globalmente.
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