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China está usando pandas para aumentar influência nos Estados Unidos? entenda

China está usando pandas para aumentar influência nos Estados Unidos? entenda

Descubra como a China usa a diplomacia dos pandas para influenciar governos locais, com foco na negociação de São Francisco para trazer pandas à cidade

A prefeita de São Francisco, London Breed, nunca imaginou que um pedido simples feito a um dos líderes mais poderosos do mundo pudesse desencadear uma série de eventos com impactos políticos e internacionais tão profundos.

Após um jantar com o presidente da China Xi Jinping no ano passado, Breed acompanhou o líder do gigante asiático até o aeroporto. Na pista, ela fez um pedido que parecia inusitado, mas foi apenas um desejo pessoal: dois pandas para o Zoológico da cidade.

O cenário político de São Francisco não era o mais favorável. O turismo, pilar econômico importante, estava em declínio, e Breed enfrentou uma difícil reeleição. A inclusão de pandas, simbolicamente associados à China e sua imagem no exterior, parecia uma solução ideal.

Mas o que se seguiu foi algo além do simples envio de ursos pandas para o zoológico local. A prefeita se envolveu em negociações internacionais com implicações de grande escala, transformando-se em uma espécie de diplomata para alcançar seu objetivo.

O início das negociações: do pedido ao compromisso

Breed não tinha experiência com diplomacia ou relações internacionais, mas foi obrigada a aprender na prática. Em um período de meses, ela se tornou uma figura central em um processo de negociação que envolveu altos representantes do governo chinês.

Viajou para a China, onde se encontrou com o vice-presidente e um vice-ministro das Relações Exteriores. Ao lado de um editor de um jornal chinês, o prefeito realizou uma série de encontros que, à vista, são normais para quem deseja primeiro um par de pandas.

No entanto, por trás desses encontros houve a atuação da Associação do Povo Chinês para Amizade com Países Estrangeiros, uma organização ligada diretamente ao Partido Comunista da China.

Com o objetivo de estreitar laços com líderes locais nos EUA e fortalecer sua presença política, a China estava utilizando a diplomacia dos pandas como um método para cultivar boas relações fora do eixo central de Washington.

Em contraste com os políticos mais experientes da capital, Breed não foi submetido a um briefing sobre contrainteligência, o que teria sido preparado melhor para as possíveis manipulações durante sua visita.

O papel dos pandas na diplomacia internacional

A China tem uma longa história de usar pandas como uma ferramenta diplomática. Esse tipo de intercâmbio tem sido parte de sua estratégia para suavizar a imagem do país no exterior, moldar políticas sobre Taiwan e promover suas ideias e interesses.

Desde os anos 70, quando a China invejou os pandas nos Estados Unidos, esses animais se tornaram um símbolo do esforço do governo chinês para melhorar sua imagem e cultivar relações internacionais.

Os pandas são especialmente valiosos para os zoológicos norte-americanos. Estima-se que os custos de manutenção de um panda para um zoológico nos EUA sejam cerca de US$ 1 milhão por ano.

A troca desses animais não é apenas uma medida de preservação, mas também uma maneira de estreitar laços e gerar uma nova percepção pública sobre o regime chinês.

Eles atraem visitantes, aumentam a receita com vendas de mercadorias e oferecem uma plataforma para discussão de políticas.

Entretanto, essa prática tem sido alvo de críticas, especialmente quanto à quantidade de dinheiro direcionado à conservação de pandas, sem que as ações sejam tão adequadas quanto o discurso sugere.

De fato, uma investigação revelou que, em três décadas, a China capturou mais pandas do que liberou na natureza, e as técnicas de reprodução em cativeiro têm danos causados ​​à saúde dos animais.

A influência de Pequim no governo local

Além de seu interesse em promover a imagem da China, Pequim também tem se preocupado em expandir sua influência política em níveis locais.

A política externa de alto nível entre os EUA e a China tem sido caracterizada por descriminação, com relações cada vez mais esfriando. Assim, a diplomacia em nível local, como as trocas de pandas, tem ganhado importância.

As chinesas estão cada vez mais atentas ao comportamento de prefeitos e governadores americanos, com um foco maior em decisões e políticas locais, muitas vezes sem o conhecimento de autoridades adequadas aos riscos de segurança nacional que envolvem tais aproximações.

O caso de London Breed ilustra bem essa mudança na abordagem diplomática de Pequim, que busca fortalecer sua influência onde as relações nacionais são mais frágeis.

Em setembro, autoridades federais acusaram ex-assessores de políticos locais nos EUA de colaborar com grupos ligados ao governo chinês. Casos como os de Nova York, onde um ex-assessor do governador foi acusado de receber pagamentos para facilitar a influência de Pequim, mostram a extensão dessa estratégia chinesa em níveis mais baixos de governo.

O lado obscuro da diplomacia dos pandas

O uso de pandas como moeda de troca diplomática não se limita a São Francisco ou a Pequim. Cidades como Omaha e Oakland também buscaram, sem sucesso, negociar a chegada de pandas a seus zoológicos nos anos 2000.

No entanto, em ambos os casos, as negociações foram interrompidas quando os diplomatas chineses planejaram influências decisões políticas, como acordos comerciais e críticas a práticas do governo chinês em relação a Taiwan e o Sudão.

Esses exemplos deixam claro que o governo chinês, ao buscar laços estreitos com governos locais nos EUA, frequentemente impõe suas próprias condições políticas, utilizando os pandas como uma isca.

As conversas que envolvem os pandas muitas vezes se entrelaçam com a tentativa de influência ou controlam a agenda política local, como ocorreram nas reuniões com a deputada Barbara Lee, que criticava o regime chinês por sua postura no Sudão.

A diplomacia local e seus efeitos na política global

A crescente influência de Pequim nas cidades americanas e em outras regiões do mundo reflete uma mudança estratégica em sua diplomacia.

À medida que os contatos diretos com o governo federal dos EUA diminuem, as autoridades chinesas se voltam para os governos locais, onde a falta de conhecimento sobre as questões internacionais pode ser mais explorada.

Em San Diego, o prefeito Todd Gloria participou de uma reunião com diplomatas chineses sobre pandas e uma “cooperação mútua benéfica”.

Embora Gloria tenha afirmado que sua participação visava promover a colaboração e o entendimento entre os dois países, a cerimônia de boas-vindas dos pandas também trouxe à tona conceitos políticos chineses, como o “futuro compartilhado”, que é uma parte central da retórica de Xi Jinping.

Essa diplomacia local tem sido criticada por analistas que alertam para o risco de a China usar esses encontros para espalhar sua ideologia, disfarçada de cooperação cultural e ambiental.

Quando São Francisco finalmente receber seus pandas, um de seus principais objetivos será, sem dúvida, aumentar o turismo e fortalecer a economia local. No entanto, os impactos dessa diplomacia silenciaram muito além do Zoológico da cidade.

O futuro dos pandas em São Francisco

Após meses de negociações e discussões, a London Breed anunciou que os pandas chineses finalmente chegarão a São Francisco no próximo ano.

Embora sua campanha de reeleição tenha falhado, o próximo prefeito da cidade, Daniel Lurie, já afirmou que espera que a presença dos pandas traga benefícios econômicos para a cidade e melhore sua imagem no cenário internacional.

No entanto, o que parecia ser uma vitória simples para a prefeita de São Francisco é, na verdade, uma faceta de uma diplomacia mais complexa e muitas vezes oculta.

A troca de pandas não é apenas sobre conservação ou turismo, mas uma ferramenta para Pequim projetar sua influência em um mundo cada vez mais polarizado.

Com isso, a questão que fica é: até que ponto os interesses locais estão dispostos a serem manipulados por um jogo de poder que, muitas vezes, se esconde atrás de um simples pedido por pandas?