China de olho no trigo da Argentina: será que o pão vai ficar mais caro no Brasil?
China de olho no trigo da Argentina: será que o pão vai ficar mais caro no Brasil?
Trigo da Argentina: boas perspectivas para a colheita e novos mercados de exportação
Após duas safras decepcionantes, a colheita de inverno da Argentina, especialmente o trigo, traz boas perspectivas. A produção de trigo deve atingir 18,6 milhões de toneladas, com chances de chegar a 19 milhões. Embora o número ainda esteja abaixo do recorde de 23 milhões de toneladas registradas na safra 2021/22, a previsão representa um aumento de 28% em relação à safra anterior.
A recuperação é bem-vinda, considerando a queda nos preços das commodities agrícolas, como milho e soja, no Mercado de Chicago. O trigo, embora também tenha enfrentado uma redução nos valores, teve uma queda menos expressiva. Com preços em torno de US$ 200 por tonelada e um saldo exportável estimado em 11 milhões de toneladas, tanto os produtores quanto os exportadores são otimistas.
Primeiro embarque para a China: uma nova era para o trigo argentino
Uma das maiores novidades é o anúncio de que o primeiro embarque de trigo argentino partirá para a China neste verão. Este marco é o resultado de oito anos de negociações, com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentária (Senasa) e a Câmara da Indústria de Óleos e Centro de Exportadores de Cereais (Ciara-CEC) desempenhando papel crucial. A China, após esses anos de estudos e ajustes, finalmente autorizou o ingresso de trigo argentino com certificado fitossanitário.
Atualmente, o Brasil é o maior comprador do trigo argentino, adquirindo cerca de 5 milhões de toneladas anualmente. No entanto, com o novo mercado chinês se abrindo, as exportações para a Argentina podem crescer. O trigo argentino também é destinado a países como Chile, Jordânia, Argélia e Egito. A meta é ampliar essa lista para 30 mercados, incluindo o Sudeste Asiático e países do Magrebe.
Fatores externos influenciam preços e oportunidades de exportação
A decisão da China de importar trigo argentino foi impulsionada por uma combinação de fatores geopolíticos e climáticos. A Austrália, tradicional fornecedora da China, enfrentou problemas climáticos, e desentendimentos comerciais com o país desde 2023 diminuíram as compras chinesas de grãos australianos. Além disso, a tensão crescente entre os Estados Unidos e a China, incluindo questões sobre soja e implicações, fez com que os chineses buscassem alternativas.
Especialistas, como Eugenio Irazuegui, analista de mercados agrícolas da corretora Zeni, destacam que essa mudança pode ser uma estratégia precavida para a China. “Se a guerra comercial com os EUA escalar, a China já terá prevista uma alternativa com fornecedores argentinos”, afirmou Irazuegui. A Argentina, por sua vez, busca solidificar sua posição no mercado chinês e expandir suas exportações para novos destinos.
O avanço da colheita e as expectativas de rendimento
As condições climáticas para a colheita de trigo da Argentina são adequadas. As chuvas no momento certo ajudaram a garantir bons rendimentos. O último levantamento da Bolsa de Cereais de Buenos Aires revelou que a colheita avançou 48,1% da área apta, com bons resultados nas principais regiões produtoras, como a Zona Núcleo, que engloba partes de Santa Fé, Entre Ríos, Córdoba, Buenos Aires e La Pampa.
Estima-se que 80,7% dos lotes de trigo estão em boas condições, variando de normais a excelentes. As expectativas para a produção são altas, com a possibilidade de ajustes positivos nas projeções de produção. As primeiras colheitas indicam que os rendimentos nas principais regiões podem superar as expectativas, com alguns lotes superando em até 6 quintais por hectare como estimativas iniciais.
Expectativas para exportações e mercado global
Com uma produção estimada entre 18,6 milhões e 18,8 milhões de toneladas, a Argentina está mirando uma expansão das exportações. A Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) prevê um bom desempenho na Zona Núcleo, com rendimentos entre 35 e 40 quintais por hectare. Além disso, a entrada da China no mercado das exportações argentinas abre novas oportunidades. A expectativa é de que as exportações do trigo argentino para a China, embora ainda pequenas no início, cresçam significativamente nos próximos anos.
Esse movimento também reflete uma mudança estratégica, onde a Argentina tenta conquistar novos mercados e diversificar suas exportações, especialmente em um cenário global de superoferta. A aposta agora é em uma exportação sem restrições, que pode trazer ainda mais a presença do trigo argentino no mercado internacional.
O futuro do trigo argentino
O trigo argentino está em um momento de virada. Com uma boa colheita, novos mercados, como a China, e uma recuperação nos preços, o futuro da commodity parece promissor. A Argentina está aproveitando a oportunidade para solidificar sua posição no comércio global e atender à crescente demanda por trigo em regiões-chave. Se as previsões de colheita e as negociações com outros países forem confirmados, o país poderá enfrentar um cenário de incerteza para o setor agrícola nos próximos anos.
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