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O homem que escapou do Japão em uma caixa de música: conheça a história de Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan

O homem que escapou do Japão em uma caixa de música: conheça a história de Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan

Descubra os bastidores da fuga cinematográfica de Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault-Nissan, em uma caixa de instrumentos musicais. Conheça detalhes sobre o caso que marcou época

Raio-x, scanners e câmeras por todos os lados. É quase impossível imaginar falhas nos protocolos rígidos de segurança dos aeroportos, mas em 2019, uma enorme caixa de instrumentos musicais cruzou as fronteiras do Japão sem ser funcional.

Dentro dela, não havia bateria nem piano, mas uma pessoa: Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault-Nissan. Sua fuga espetacular, digna de roteiro de Hollywood, se transformou no documentário: Procurado – A Fuga de Carlos Ghosn, disponível na Apple TV+.

A série documental, dirigida por James Jones, baseia-se no livro Boundless, dos jornalistas Nick Kostov e Sean McLain, e apresenta uma visão aprofundada do caso que chocou o mundo.

Com entrevistas inéditas, a produção explora desde a ascensão meteórica de Ghosn na indústria automotiva até sua fuga ousada e polêmica para o Líbano.

Uma história de poder, prisões e fuga

O documentário narra os bastidores da trajetória de Ghosn, destacando suas prisões no Japão e os desdobramentos da fuga que contam com a ajuda de Mike Taylor, ex-membro das Forças Especiais dos Estados Unidos, e seu filho, Peter Taylor.

Ambos foram presos e passaram quase dois anos detidos no Japão. Além disso, a produção inclui depoimentos de Carole Ghosn, esposa do executivo, e Greg Kelly, ex-diretor da Nissan, entre outros envolvidos.

A fuga de Ghosn gerou debates intensos. Seria ele uma vítima de um sistema de justiça japonês implacável ou um vilão que manipulou as situações em benefício próprio? Segundo James Jones, diretor da série, o caso é complexo. “Não é apenas uma história de injustiça. É algo mais sombrio e distorcido”, afirmou em entrevista.

Os bastidores da produção

James Jones revelou que conseguiu a participação de Carlos Ghosn no documentário foi um desafio. “Ele é obcecado por seu legado e controla cuidadosamente sua narrativa”, explicou.

Após meses de negociação, Ghosn aceitou participar, entendendo que a série seria a versão mais completa e definitiva de sua história.

Mike Taylor, um dos responsáveis ​​pela fuga, também teve sua visão. “Não sabia muito sobre Ghosn até ser contatado para ajudar a libertá-lo.

Me falaram sobre as condições desumanas que ele enfrentaria e decidiria intervir. Não me interessou pelo lado judicial, mas sim a injustiça do tratamento que ele recebeu”, disse Taylor.

Para Taylor, a decisão de ajudar foi motivada por questões éticas e humanitárias, mesmo sabendo que poderia enfrentar consequências legais.

“Fizemos pesquisas antes e sabíamos que, no Japão, fugir do julgamento não é considerado crime. Então, técnicos, não violamos nenhuma lei ao ajudar Ghosn”, explicou.

O homem e o mito

Carlos Ghosn é uma figura emblemática no mundo dos negócios. Ele liderou a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, liderando o topo da indústria automotiva global.

No Japão, Ghosn ganhou o status de herói ao salvar a Nissan da falência na década de 1990. Sua declaração, no entanto, começou a ruir com denúncias de irregularidades financeiras.

De acordo com as investigações, Ghosn teria recebido remunerações exorbitantes e ocultados bônus milionários por meio de uma estrutura societária na Holanda. Além disso, as acusações apontam que ele desviou recursos da Renault para financiar luxos pessoais, como um iate de 120 pés.

Em sua defesa, Ghosn alegou ter sido vítima de uma conspiração corporativa e política. Ele criticou o sistema judicial japonês, classificando-o como “injusto e opressor”. Apesar disso, as provas documentais e testemunhais colocam em dúvida a sua inocência.

Impactos e repercussões

A fuga de Ghosn expôs fragilidades nos sistemas de segurança do Japão e levantou questões sobre a eficácia de sua justiça. Além disso, o episódio trouxe consequências para outros envolvidos.

Greg Kelly, ex-diretor da Nissan, foi preso sob acusações de colaboração com Ghosn. Mike e Peter Taylor enfrentaram condições adversárias durante o período de detenção no Japão, conforme relatos de familiares.

Para a indústria automotiva, o escândalo abalou a confiança na aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. A Renault fez pressão financeira e passou por uma reformulação em sua liderança. Já a Nissan viu suas ações despencarem e precisou reavaliar sua estratégia global.

Entenda o caso

Carlos Ghosn iniciou sua trajetória na Renault em 1996. Três anos depois, liderou a aquisição da Nissan, transformando-a em um gigante do setor. Em 2016, ele consolidou uma parceria com a Mitsubishi, formando um dos maiores conglomerados automotivos do mundo.

No entanto, em 2018, Ghosn foi acusado de fraude fiscal e má gestão financeira. Ele foi preso no Japão, mas conseguiu liberdade condicional após pagar fiança. Enquanto aguardava o julgamento, arquitetou uma fuga cinematográfica.

O plano envolve um jato privado e uma caixa adaptada para instrumentos musicais, onde Ghosn foi escondido. O destino final foi o Líbano, país que não possui acordo de extradição com o Japão. Desde então, ele vive em Beirute e segue negando as acusações.

O futuro de Ghosn

Embora o documentário não apresente respostas definitivas sobre a culpa ou inocência de Carlos Ghosn, ele reacende o debate sobre os limites da justiça e os desafios enfrentados por figuras públicas em cenários de alta exposição midiática.

Ghosn permanece no Líbano, onde tenta reconstruir sua imagem enquanto enfrenta novos desdobramentos legais.

A série Procurado – A Fuga de Carlos Ghosn chama a atenção do público por reacender a discussão sobre os bastidores de um dos casos mais emblemáticos do mundo corporativo. Seja vilão ou vítima, uma coisa é certa: Carlos Ghosn continua sendo uma figura central em um dos maiores dramas da história recente.