O Brasil possui 30.660 km de ferrovias, mas não utiliza mais seus trens. Por quê?
O Brasil possui 30.660 km de ferrovias, mas não utiliza mais seus trens. Por quê?

O Brasil possui uma vasta malha ferroviária subutilizada. Descubra as causas históricas, geográficas e econômicas por trás desse declínio e o futuro das ferrovias no país
O Brasil, com sua imensa extensão territorial, possui uma malha ferroviária de 30.660 km, segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Embora pareça grande, esse número é irrisório quando comparado à sua malha rodoviária, que supera 1,7 milhão de quilômetros. A história por trás dessa disparidade é complexa, envolvendo fatores históricos, geográficos e econômicos que moldaram a situação atual do transporte ferroviário no país.
O auge e o declínio das ferrovias brasileiras
A história das ferrovias no Brasil começa com um grande impulso no século XIX, durante o Império, especialmente sob o governo de D. Pedro II, que incentivou a construção de ferrovias externas para a exportação de produtos como o café.
Durante esse período, o Brasil chegou a construir mais de 900 km de trilhos por ano, com destaque para as conexões entre as principais regiões cafeeiras e os portos.
Contudo, a década de 1960 representou o auge da malha ferroviária, com 38.287 km de trilhos, mas, após esse período, a falta de investimentos e a obsolescência da infraestrutura feita com que as ferrovias começaram a perder importância.
Durante o século XX, o Brasil investiu mais fortemente em rodovias, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o governo de Juscelino Kubitschek iniciou a expansão da infraestrutura rodoviária, buscando promover a integração entre as regiões e o desenvolvimento econômico.
Esse movimento foi impulsionado pela crescente indústria automobilística e pela flexibilidade oferecida pelos caminhões, que puderam acessar mais regiões do país de maneira mais eficiente que os trens.
Geografia e economia: os obstáculos ao crescimento ferroviário
Outro fator importante que contribuiu para a queda do transporte ferroviário no Brasil foi a geografia do país. O terreno montanhoso e a dificuldade de acesso ao litoral, com grandes serras que dificultavam a construção de ferrovias, são desafios que influenciaram a expansão das ferrovias.
O modelo colonial de exploração, que se baseava no transporte de recursos naturais para exportação, não favoreceu a integração internacional do país através das ferrovias, como seria necessário para o transporte coletivo.
Na época do Império, as ferrovias eram fortemente ligadas à exportação de café e outros produtos agrícolas, mas outras regiões do Brasil não possuíam a mesma capacidade produtiva para implementar a construção de novos trilhos.
As ferrovias que existiam eram, portanto, voltadas para os interesses econômicos das elites agrárias e das grandes indústrias, e não para o desenvolvimento regional.
O impacto cultural e social das ferrovias
As ferrovias também tiveram um papel fundamental na cultura brasileira, especialmente no futebol. Charles Miller, considerado o pai do futebol brasileiro, tinha raízes profundas nas ferrovias, uma vez que seu pai era diretor da São Paulo Railway, empresa que transportava café para o porto de Santos.
Esse laço com as ferrovias levou o esporte a se espalhar pelo interior do país, especialmente entre os trabalhadores ferroviários, que se tornaram os primeiros praticantes e difusores do futebol nas cidades do interior.
O futuro das ferrovias no Brasil
Atualmente, as ferrovias no Brasil servem predominantemente no transporte de produtos como minério de ferro e soja para exportação, com poucas opções para o transporte de passageiros.
As empresas ferroviárias, como a Vale, continuam a operar linhas externas para o transporte de recursos naturais, mas o impacto no transporte de pessoas e na integração regional é quase nulo.
Para que as ferrovias voltem a ter um papel importante na economia e na sociedade brasileira, é necessário um novo olhar para essa infraestrutura.
É preciso investir em novos projetos, ampliando a malha ferroviária e modernizando as estruturas existentes, de modo a integrar as ferrovias à vida cotidiana da população.
Além disso, o transporte ferroviário pode representar uma alternativa mais sustentável, com menores custos logísticos e menos impacto ambiental do que o transporte rodoviário.
O desafio é grande, mas é também uma oportunidade para revitalizar um símbolo histórico do país e promover o desenvolvimento econômico e social de maneira mais eficiente.
Se o Brasil quiser aproveitar todo o potencial de suas ferrovias, precisará superar os obstáculos históricos, geográficos e econômicos que limitam seu uso.
As ferrovias têm o poder de transformar a logística nacional e, assim, contribuir para a redução de custos e o aumento da integração entre as regiões, proporcionando um futuro mais sustentável para o país.
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